Poesia e Poema não são coisas antagônicas, mas não são a mesma coisa, embora muitos possam pensar o contrário. Essa confusão é provocada por nós mesmos editores e poetas que ao lançarmos um livro de poemas colocamos na capa: POESIA, para identificar o conteúdo. Por que é isso mesmo que se busca num livro de poemas, a poesia. Mas nem sempre a poesia está presente nos versos de um poema.
Nos grandes poetas ao que parece, ela está presente mesmo antes do poema, que é apenas um texto literário que contém versos, estrofes e rimas, estas cada vez menos.
O estado de poesia está em Irene no Céu, de Manuel Bandeira:
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Assim como em Soneto do Corifeu, de Vinicius de Moraes:
São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.
Mas a poesia pode ser encontrada mesmo quando não há palavras, como numa
sinfonia de Schumann, num quadro do Monet, ou na foto de um por do sol.