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SÚPLICA DO NAVIO À DERIVA

Foto de Herbert Fuda de Souza 
no 
Unsplash
SARAH PASSARELLA
Poeta, contista, cronista, autora dos livros “Peregrina do Uni-versos- 2ª edição”, “Tecendo Amanhãs”, “Poemas Inesquecíveis de Sarah de Oliveira Passarella”, “Poéticas Travessias”, “Sarah Passarella em Fragmentos da Memória”, “(É) terno o Tempo”, “Poemas de cantar Natal”, “Águas de Presságios - 2ª edição”, “Um Anjinho que pinta estrelinhas” (infantil) e “Fiapos de Ternura”, lançado na “FLIP” em Julho de 2019.


SÚPLICA DO NAVIO À DERIVA
                                                                                     
Senhor, em súplica lhe peço, liberte-me deste mar revolto de ondas encapeladas, em que estou perdido. Mostra-me a rota certeira e firme em que a trajetória seja amena e que no fim deste nevoeiro seja possível ver uma luz positiva. Não uma luz bruxuleante de palavras vãs, promessas que não serão cumpridas, mas a realidade necessária para que eu sobreviva com minha preciosa carga humana, moral, material que esperam de mim a salvação.
Faça Senhor que o meu comandante não abandone o barco, dá-me uma tripulação competente, de alta perícia, que me tire destas dificuldades e aflições.
Quero voltar a ser: um barco, até uma caravela, singrando em águas mansas como a retina do mar, promissora, com possibilidade de sucesso e bem estar para tantos passageiros que esperam para meu atracar e pisarem em terra firme.
Mas como meu Deus? Se alcançam a maçaneta da porta ela está contaminada, se vão à proa imaginando uma brisa salobra e fresca, poderá ela também lhe trazer o vírus ameaçador. A água também poderá estar contaminada e se misturar com as gotículas espargida de suas próprias bocas.
Unidos todos numa só força, aglomeração nem pensar, receber ou dar um abraço jamais.  Como trabalhar? Não tem transporte, se tem, tem risco de contagio!
O nevoeiro é grande, tantas nuvens de tempestades ameaçando, vagalhões, rochedos, tenho medo de soçobrar.
Dá-me, Senhor, um timoneiro experiente, honrado de pulso firme e ideias claras, sem pilhérias, com o desejo firme e que esta viagem acabe bem, sem interesses diversos que vão ao desacordo da missão principal: salvar a embarcação, os passageiros abrindo possibilidades para uma saldável trajetória por este mesmo mar.
Permita-me Senhor ter em minha tripulação, capitão, marujos, marinheiros, imediatos com coragem e bons propósitos, incansáveis, que consigam limpar as águas apodrecidas em que estou mergulhado. São sujeiras antigas, novas que acostumado que estou penso não ser possível despoluir o oceano.
Mas não quero me acomodar, prender as amarras, soltar o ferro ancoradouro no velho píer e ficar em águas estagnadas esperando a maré abaixar.
Preciso de águas limpas, despoluídas para navegar, pois nestas que ora navego boiam algas da injustiça, restos de madeira podre da soberba, da irresponsabilidade que prendem a minha quilha e só posso flutuar devagar num mar morto de benesses e muito vivo de corrupção.
Senhor, minhas tábuas estão velhas, estalam, tremem, meus motores falham, minhas velas estão rotas, mas mesmo assim dizem que minhas queixas são mentirosas, que tudo está sobe controle. Tempos atrás já disseram, - é só uma marolinha. Estou desiludido, meus passageiros desinteressados, pensando em navegar outros mares. Preciso de ajuda.
Conceda-me Senhor pessoas que acreditem em mudanças, que não se deixem corromper, que transforme estas águas turvas em verdades e esperanças para minha tripulação, para o menino do cais que me espera na esperança de vender suas balas para levar comida para casa.
Meus porões estão infestados de ratazanas ávidas do poder, da ganância, espezinhando a democracia, única salvação de um povo que luta por liberdade, mas liberdade liberta, como as asas do Condor que plana no céu contemplando a imensidão azulável certo que alcançará suas aspirações.

E assim Senhor, quem sabe, numa difícil empreitada, não escape dos redemoinhos fatais e volte a equilibrar-me, redescobrindo a melhor rota e, com motores liberados de conchavos perniciosos, propina para navegar em meu próprio mar, velas abertas a ventos benéficos eu retorne ao meu destino certo e com bem intencionados passageiros, possamos nos livrar da ruína final. Da peste que assola nossa gente, que lhes tira o trabalho, o dom operário, o salário, o pão e até a vida.
Há muito Pai, despertei do berço esplendido, não fugi à luta e apesar da minha luneta embaçada busco o Sol radiante e os raios fúlgidos do futuro.
Dá-me, Senhor, a dádiva da sabedoria, para que eu seja um navio respeitado e nunca um velho barco carcomido num naufrágio em uma ilha esquecida...

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