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VOCÊ NÃO PRECISA DE MILHÕES DE LEITORES

Quantos leitores você precisa para viver de seus livros? Já parou para pensar nisso? O escritor americano Kevin Kelly fez esse trabalho por nós em seu texto “1.000 True Fans”. Ele é um dos mais influentes pensadores sobre as transformações provocadas pela tecnologia. O texto é uma excelente reflexão sobre como viver da arte que produzimos, não só o escritor, mas todos que produzem arte e cultural.

A reflexão é instigante porque tira um peso enorme de nossas expectativas e coloca as coisas de forma realista e ao alcance possível de todos que produzem letras e artes. Ele trabalha com a meta de 1.000 fãs, não 10 mil, ou um milhão, apenas 1.000 fãs, dispostos a comprar seus livros, discos, suas obras de arte.      

Mas sendo apenas 1.000 não será fácil conquistar esses leitores, ou fãs, todos vocês que escrevem sabem disso, mas com método e disposição você poderá formar sua audiência para viver do que lhe dá mais alegria em fazer. Porque existe mais de uma maneira da carreira de um escritor dar certo. Os caminhos são vários, as estratégias para chegar ao coração dos leitores também.

Sabendo que para ser um escritor de sucesso você não precisa de milhões de leitores, mas de 1000 fãs reais apenas, você já se sente animado a empreender para poder viver sua vida, desde que não esteja pensando em fazer fortuna.

Antes da internet, você nunca poderia satisfazer esse desejo. Mas agora a satisfação está a um clique de distância, é o que Kevin Kelly nos mostra em seu texto. Quaisquer que sejam seus interesses como criador, seus mil fãs reais estão a um clique de distância de você.

Outra questão importante é que muitos escritores não gostam de lidar com seus leitores, querem simplesmente escrever, que também é legitimo. Se esse for seu caso você pode delegar essa tarefa para alguém, um parceiro, um ajudante, desde que você saiba pedir para ele o que você deseja, e ele ficará no meio do campo fazendo a ponte entre você e seus leitores, procurando aumentar o número de fãs que você precisa,.

A conclusão, para Kevin Kelly, é que ao invés de almejar o caminho árduo e improvável da celebridade, você pode mirar diretamente na conexão com mil fãs reais. Porque não importa quantos fãs você realmente ganhe, estará cercado de pessoas que realmente gostam do que você faz. É um destino muito mais saudável, um caminho bem mais tranquilo. E você tem muito mais chances de chegar lá.

Estou desenvolvendo um projeto para a Hotmart chamado “Jornada do Escritor” que logo será lançado e vocês serão informados disso, que trata dessa e de outras questões, e das possíveis estratégias que cada autor poderá usar para criar sua audiência. Porque cada livro tem seu público e como chegar ao público de seu livro é a tarefa de cada autor.

 

PARA QUEM VOCÊ ESCREVEU SEU LIVRO?

É comum verificarmos a frustração e, às vezes, o desânimo de escritores que amargam o encalhe do livro que escreveu. Antigamente era pior porque as tiragens eram maiores, 1.000 a 3.000 exemplares. Hoje trabalhamos com tiragens de 100 a 300 exemplares, fica mais fácil distribuir, mas nem sempre. O mesmo ocorre com o e-book que fica parado na plataforma a espera do leitor que não comparece.

A situação é frustrante, mas é generalizada, por que se fizermos a pergunta mais importante em toda essa história para 100% dos que escrevem, mas não vivem profissionalmente como escritor, 99% não vai saber responder. E a pergunta é a seguinte: para quem você escreveu seu livro?

Alguns se sentirão ofendidos se tiverem que responder, simplesmente porque desconhecem quem é seu leitor, que ele autor, ou ela autora, confunde com a mãe, o irmão, o companheiro, os parentes de modo geral e os amigos.

Esses serão nossos leitores sempre, mas não existe um único escritor em todo o mundo que tenha tantos amigos e parentes, que o permita viver do que ele escreve. Simplesmente porque esses leitores, em grande parte, querem receber o livro de graça, por isso não servem como parâmetros para nossa audiência.

Estou falando do leitor ideal, aquele que comprará seu livro uma vez, e continuará comprando todos os que você escrever, porque você estará escrevendo para ele e ele precisa de seu livro, e vai ajudar a divulga-lo por onde passar. Esse leitor é o maior divulgador do escritor. Mas você sabe quem é o seu, aquele para quem você pensou o seu livro?

Se fizermos a pergunta teremos basicamente três respostas.

- Eu escrevo para todo mundo!

Esta é a mais inócua das respostas, porque quem escreve para todo mundo, no fundo não escreve para ninguém.

 A segunda resposta vem com um pouco de irritabilidade:

 - Eu escrevo para quem gosta de ler!

 Quer dizer, todo mundo que compra livro, repete sem dizer, o todo mundo da primeira.

 A terceira vem mais irritada porque é mais real:

 - Eu escrevo para mim!

O autor desta certamente encontrará mais leitores que os demais porque traz o leitor ideal implícito, ou seja, todos que são como ele.


Fico pensando em João Guimarães Rosa ao escrever Grande Sertão Veredas. Se ele estivesse escrevendo para ele será que se submeteria aquele esforço colossal para enfrentar daquela forma as mais de seiscentas páginas do romance? Acho que sim. Ele escreveu para o mais sofisticado dos leitores, que ao mesmo tempo amasse a literatura e o Brasil, que tivesse sede de entender o país. Escreveu para ele mesmo.

Por que qualquer leitor que não junte essas três qualidades não topa enfrentar o romance. Por isso ele não teve muitos leitores no início, perdeu o concurso de que participou para uma obra que hoje ninguém sequer lembra o nome. Enquanto Grande Sertão Veredas vem crescendo em importância e em número de leitores ao redor do mundo desde então.

Mais de 60 anos depois continua procurada pelos leitores mais sofisticados e pelos estudantes do colegial. Esse é o destino dos clássicos, dos gênios, suas obras ficam mais conhecidas, mais populares, à medida que o tempo passa. Mas essa não é a realidade do grosso da literatura, da grande maioria dos escritores, cujas obras se esgotam em seu próprio tempo, ou um pouco depois.

Por isso é fundamental que você saiba quem é seu leitor ideal, e ele muda dependendo do conteúdo da obra que você estiver escrevendo, porque você depende dele para que sua obra tenha fôlego. A divulgação de sua obra terá destino certo se estiver claro para você quem é seu leitor ideal.

 

A POESIA E O POEMA

Poesia e Poema não são coisas antagônicas, mas não são a mesma coisa, embora muitos possam pensar o contrário.  Essa confusão é provocada por nós mesmos editores e poetas que ao lançarmos um livro de poemas colocamos na capa: POESIA, para identificar o conteúdo. Por que é isso mesmo que se busca num livro de poemas, a poesia. Mas nem sempre a poesia está presente nos versos de um poema.

Nos grandes poetas ao que parece, ela está presente mesmo antes do poema, que é apenas um texto literário que contém versos, estrofes e rimas, estas cada vez menos.

O estado de poesia está em Irene no Céu, de Manuel Bandeira:  

 

Irene preta

Irene boa

Irene sempre de bom humor.

 

Imagino Irene entrando no céu:

- Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

 

Assim como em Soneto do Corifeu, de Vinicius de Moraes:


São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

 

Mas a poesia pode ser encontrada mesmo quando não há palavras, como numa sinfonia de Schumann, num quadro do Monet, ou na foto de um por do sol.

 


ATÉ ONDE VÃO OS DIREITOS DO AUTOR

É comum autores iniciantes, e outros nem tão iniciantes assim, perguntarem sobre até onde vai o seu direito como autor. Faz algum tempo uma autora me perguntou sobre a possibilidade de processarmos a Rede Globo devido a uma história de amor passada em uma novela com a trama na livraria de um Shopping Center, situação semelhante a um conto dessa autora que havíamos publicado.

Minha resposta foi não, e tive que dizer o por quê. Ela achava que de alguma forma o autor do folhetim televisivo havia tido conhecimento de seu conto e se aproveitado de sua ideia. Expliquei para ela que mesmo que isso tivesse acontecido não seria um crime, não que o plágio não pudesse ser possível em outra situação, por que, para que isso aconteça, será preciso mais que a ideia, coisas como semelhanças na trama e no desenvolvimento de personagens.

Mas o que a deixou chocada foi saber que os direitos do autor não cobrem a ideia, mas a forma como a ideia é desenvolvida. Que a ideia de uma trama de amor na livraria de um shopping pode ser desenvolvida ao mesmo tempo por dois ou três autores, sem que um tenha conhecimento dos trabalhos dos outros.

Milhares de pessoas têm grandes ideias para um conto, um romance, uma novela, todos os dias, mas quantos se transformam efetivamente num trabalho literário? Portanto, o trabalho do autor não está na ideia, mas na realização da mesma, na forma como o autor a desenvolve. Quando você manda um trabalho para registro na Biblioteca Nacional ou na Câmara Brasileira do Livro, o que você está registrando mesmo é a forma como você desenvolveu a sua ideia.

O mesmo ocorre com o título, para que um título seja autoral e, portanto, suscetível de plágio, ele precisa ser bastante particular. Se eu escrevo hoje um romance com o título "Memórias póstumas de Brás Cubas" estarei cometendo um plágio descarado, se o autor estivesse por aqui poderia me processar por isso. No entanto, se eu desse ao meu livro o título "Memórias póstumas de Zacarias" poderia ser criticado no máximo por falta de originalidade, mas Machado de Assis não teria razão para me processar.

Em 1980 Escrevi As fãs de Frank Sinatra, no momento em que o cantor esteve pela primeira vez no Brasil, baseei-me no título As Fãs de Roberto Taylor, peça de Gastão Tojeiro, escrita em meados do século passado. Minha peça teve duas montagens na Paraíba, tempos depois outro autor paraibano, Tercisio Pereira, escreveu As Fãs de Roberto Carlos, os títulos e os textos partem da mesma ideia, mas as obras são diferentes.

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