É comum verificarmos a frustração e, às vezes, o desânimo de escritores que amargam o encalhe do livro que escreveu. Antigamente era pior porque as tiragens eram maiores, 1.000 a 3.000 exemplares. Hoje trabalhamos com tiragens de 100 a 300 exemplares, fica mais fácil distribuir, mas nem sempre. O mesmo ocorre com o e-book que fica parado na plataforma a espera do leitor que não comparece.
A situação é frustrante, mas é generalizada, por que se fizermos a pergunta mais importante em toda essa história para 100% dos que escrevem, mas não vivem profissionalmente como escritor, 99% não vai saber responder. E a pergunta é a seguinte: para quem você escreveu seu livro?
Alguns se sentirão ofendidos se tiverem que responder, simplesmente
porque desconhecem quem é seu leitor, que ele autor, ou ela autora, confunde
com a mãe, o irmão, o companheiro, os parentes de modo geral e os amigos.
Esses serão nossos leitores sempre, mas não existe um único escritor em todo o mundo que tenha tantos amigos e parentes, que o permita viver do que ele escreve. Simplesmente porque esses leitores, em grande parte, querem receber o livro de graça, por isso não servem como parâmetros para nossa audiência.
Estou falando do leitor ideal, aquele que comprará seu livro uma vez, e continuará comprando todos os que você escrever, porque você estará escrevendo para ele e ele precisa de seu livro, e vai ajudar a divulga-lo por onde passar. Esse leitor é o maior divulgador do escritor. Mas você sabe quem é o seu, aquele para quem você pensou o seu livro?
Se fizermos a pergunta teremos basicamente três respostas.
- Eu escrevo para todo mundo!
Esta é a mais inócua das respostas, porque quem escreve para todo mundo, no fundo não escreve para ninguém.
O autor desta certamente encontrará mais leitores que os demais porque traz o leitor ideal implícito, ou seja, todos que são como ele.
Fico pensando em João Guimarães Rosa ao escrever Grande Sertão Veredas. Se ele estivesse escrevendo para ele será que se submeteria aquele esforço colossal para enfrentar daquela forma as mais de seiscentas páginas do romance? Acho que sim. Ele escreveu para o mais sofisticado dos leitores, que ao mesmo tempo amasse a literatura e o Brasil, que tivesse sede de entender o país. Escreveu para ele mesmo.
Por que qualquer leitor que não junte essas três qualidades não topa enfrentar o romance. Por isso ele não teve muitos leitores no início, perdeu o concurso de que participou para uma obra que hoje ninguém sequer lembra o nome. Enquanto Grande Sertão Veredas vem crescendo em importância e em número de leitores ao redor do mundo desde então.
Mais de 60 anos depois continua procurada pelos leitores mais sofisticados e pelos estudantes do colegial. Esse é o destino dos clássicos, dos gênios, suas obras ficam mais conhecidas, mais populares, à medida que o tempo passa. Mas essa não é a realidade do grosso da literatura, da grande maioria dos escritores, cujas obras se esgotam em seu próprio tempo, ou um pouco depois.
Por isso é fundamental que você saiba quem é seu leitor ideal, e ele muda dependendo do conteúdo da obra que você estiver escrevendo, porque você depende dele para que sua obra tenha fôlego. A divulgação de sua obra terá destino certo se estiver claro para você quem é seu leitor ideal.
Realmente quando escrevo , escrevo para mim. Seria como se fosse um desabafo, uma ficção, um sexto sentido ou mesmo uma realidade.
ResponderExcluirQuem sabe um segredo, onde não me coloco como primeira pessoa, para fugir de mim mesma?
Muitas vezes, enigma; outras vezes, livro aberto.