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MEUS DOIS COMPANHEIROS DE QUARENTENA

GINA TEIXEIRA
Artista carioca e Auditora da Receita Federal aposentada. Bacharel em Teatro pela UNIRIO, Pós Graduada em Direito Previdenciário. Começou no Teatro de Revista como vedete e o nome de Lady Gigi na Cia. do Colé. Está Presidente da Casa do Compositor Musical . É membro da Academia de Letras do Brasil, ALALS, ACLAL e A.C.I.MA e gravou seu primeiro CD  “Reina Regina” pela gravadora SOM MASTER. Apresentou-se em Puerto Rico, Montreal, San Bernardo, Rosário, Lisboa, Burquina Faso, Maputo, Luanda e Bissau. Sua última atuação foi em “Chica Boa”, comédia de Paulo
Magalhães onde fez o papel título nos teatros Henfil, Princesa Izabel e Henriqueta Brieba no Rio de Janeiro. ginateixeira@globo.com
GINA TEIXEIRA
Rio de Janeiro-RJ

MEUS DOIS COMPANHEIROS DE QUARENTENA

O fato de termos que estar isolados em nossos lares durante a pandemia do COVID-19, devido ao novo corona vírus, me fez ressuscitar um velho hábito que eu tinha com uma magrela. Realmente eu a adoro e inclusive já tive diversos modelos durante esses meus 64 anos. Meu pai sempre me incentivou com essa relação, visto que ele nunca conseguiu dominá-la.
Na minha infância um dos programas que meu genitor mais gostava era irmos à Ilha de Paquetá aqui no Rio de Janeiro e ambos compartilhávamos uma bicicleta dupla. Era muito agradável com nossos corpos seminus montar na sua estrutura e sentir a brisa marinha e o sol a nos fornecer a necessária vitamina D.
Certa vez  rompi um namoro com um determinado senhor que resolveu me ofertar uma ergométrica e a devolvi no momento da entrega, pois eu sonhava com uma de 20 marchas. O deus tempo passou  e não é que anos depois adquiri uma que no momento é a minha melhor aliada.
Até o Toquinho compôs uma música para a bicicleta e o Palavra Cantada também.
Sem dúvida estou cada vez mais apaixonada por ela, porém tenho um instrumento que rivaliza com a mesma.
Comecei  minha vida artística com um Silvertone verde apesar de quando criança ter sido iniciada através de um Hering azul marinho. Minha mãe gostava tanto de acordeão que provavelmente meus avós não tiveram recursos para  lhe ofertarem um. Eu por minha vez não gostava nada, pois era motivo de bullying pelos colegas da época por que a Bossa Nova destacava o piano e o violão.
Sendo franzina quando da fase da escolha de um instrumento que era exigido na grade de matérias da Universidade Uni-Rio no curso de teatro optei pelo tradicional violão de 6 cordas. Nesta época meu pai faleceu ,este instrumento que me foi dado por um namorado me remetia sempre a época do luto e o fato de ter sempre que estar com as unhas aparadas, após o término do curso coloquei-o no canto da casa.
Como gosto muito de samba e sou independente resolvi que iria ter um pandeiro para me auto acompanhar. Uma idosa  ilustre,  amiga de um misto de cantor e  luthier pediu para ele confeccionar um de pele de cabrito para mim. Foi amor à primeira vista, 26 cm cabiam facilmente em uma bolsa e podia viajar comigo. Comecei então a ter aulas para dominá-lo melhor.
Confesso que passei a me interessar por outros de diâmetro menor, pois eram mais leves ainda. Daí para frente sempre que viajava procurava um irmãozinho para ele.
Estive em Pucón, no Chile, e encontrei um hexagonal com 3 carreiras de platinelas, fiquei encantada pois no Brasil normalmente são feitos com uma  única carreira e uma base de madeira num dos lados o que o torna desconfortável para manuseá-lo .
Quando estava num mercado de  Jerusalém me deparei com um jogo de 3 pandeiros com uma espécie de mosaicos na parte da madeira, mas sem a cravelha que possibilita apertar o couro. Comprei-os porque além de lindos, me  lembrei de algumas citações da Bíblia que aprendi com o meu primeiro professor de percussão.
Para quem não domina o livro sagrado seguem algumas considerações: Salmo 150:3-5 “Cantem  glória ao Senhor com tamborins e danças ,com  instrumento de corda e flautas!; Êxodo 15:20 “Então Miriã , a profetiza irmã de  Arão  tomou um tamborim e começou a dançar ,acompanhada pelas mulheres” e 2Samuel 6.5” Aio ia à frente, e logo atrás vinham Davi e os outros chefes de Israel; eles marchavam alegres, agitando ramos de árvores ao som de instrumentos musicais como liras, harpas, tambores, címbalos  e outros”.
 Quando estive na Paraíba terra do Rei do Ritmo, o querido Jackson do Pandeiro, tive que adquirir um de couro de bode que me acompanhou nas apresentações pelo Nordeste, contudo o que estou reverenciando no momento é o de  couro de lhama que tem duas carreiras de platinelas que me encantou  no mercado de Guadalajara no México e que foi meu parceiro nas performances durante a Feira do Livro.
Atualmente devido às famosas lives, este último é o meu fiel escudeiro. Ele tem um som tão potente que algumas vezes se torna o protagonista da minha atuação.
Existem também pandeiros de acrílico com que os passistas fazem acrobacias e são bem grandes. Agora os homens estão tocando esses pequenos que no passado eram chamados de pandeiros de moças. Em Cabo Verde na África as moças tocam uns pandeiros enormes de couro.
Como dizia o Caetano Veloso: Como é bom poder tocar um instrumento..., e finalizo com o salmo 81.2” Cantem com alegria, cantem  salmos com acompanhamento de pandeiros, harpas e liras”.



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