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A MOÇA



Photo by Raphael Lovaski on Unsplash





ANCHIETA MENDESJosé de ANCHIETA de França MENDES, natural de Juazeiro do Norte/CE, autor de Valados de Giz - Romance (2001 - Independente);  Dois dedos de prosa (Contos 2007- Independente);  Alquimia – Romance (2013 - Multifoco);  Bicho Metropolitano (Contos – 2016 - Penalux) - 2º lugar no concurso de Contos Sesc Santo Amaro/SP com o conto Letargia (2003).
Gestor Ambiental Consultor SEMACE/AMAJU Técnico em Segurança do Trabalho.
blog: anchietamendes.blogspot.com.br







A MOÇA

Faltavam dez minutos para as 17 horas, o banco estava vazio, apesar de tanta gente transitar pelo lugar; não precisei correr para sentar nele, apesar de achar-me cansado pelas inúmeras voltas pelo lugar e o vazio do banco era a salvação; então vi que o banco era curto e dividido em duas partes; uma de costas para a outra, e esse detalhe parecia simples e o era para muita gente e para mim também, a questão estava no vazio dele e em pouco tempo em estar ali com um livro há pouco comprado, uma moça sentar-se ao lado, e não a olhei, mas a vi o necessário pelo canto do olho

DEUS TEM UM PROPÓSITO NISTO









FERNANDO CARVALHO
Participa de mais de 80 antologias e 31 livros individuais, carreira dedicada a propagar o amor de Jesus sobre a humanidade.   Diácono e membro da Igreja Batista Monte Horebe - Vila Nova-RJ/RJ.











DEUS TEM UM PROPÓSITO NISTO

Estamos vivendo num mundo em trevas, mas o amor de Deus ainda está sendo vivido pela humanidade, e O Senhor está nos dando uma oportunidade de nos achegarmos mais a Ele. O Senhor

COMO NA LUA/ COMO A LUA

Photo by Claudeci Farias on Unsplash



FABIO DA SILVA BARBOSA
Fabio mostra ao longo de sua trajetória um trabalho que vem passando por fases, experimentando formas, o caminhar de uma extensa obra em construção, mas mantendo sempre a veia ácida, crítica e de demolição do que está posto. Entre zines, livros, vídeos e eventos o rastro vai ficando sobre essa terra devastada. 

COMO NA LUA/ COMO A LUA

Lembra de quando você via seu irmão caindo na rua
E o governo dizia
Ainda somos uma nação forte

OS ETERNOS DESCONHECIDOS DA PAULICEIA

Foto de Ichio no Unsplash

PHYDIAS BARBOSA

Trabalha na produção de cinema desde os anos 60. Participou de duas dezenas de longas metragens, brasileiros e estrangeiros,  diversos documentários e programas de TV como Contra Regra, Continuista, Assistente de Direção,  Diretor de Produção, Diretor Artístico e Produtor Executivo. Seus últimos trabalhos como diretor são: A Menina feita de espinhos (Longa), Assim na Terra como no Céu (Curta) e Je me Souviens (Documentário). Atualmente produz conteúdo para o seu canal do Youtube. Escreve para o jornal Brazilian Times de Boston, Massachussets e teve seu conto “Abusada” no terceiro lugar do concurso de contos do Florida Review (Miami). Tem 3 roteiros de  longas, o livro de memórias De Quissamã a Hollywood e 4 peças teatrais, tendo produzido duas delas: Mota Coqueiro, Culpado ou Inocente e A Floresta do Luar não vai Acabar (infantil).






OS ETERNOS DESCONHECIDOS DA PAULICEIA

I

Todos os dias eles faziam tudo sempre igual. Acordavam às 5 horas da manhã. Tomavam banho e se arrumavam. Depois de um fraco café da manhã, abraçavam sorrindo com aquele matinal sorriso ao passar pelas bocas de hortelã de seus amados filhos, pais, irmãos, agregados, maridos, mulheres ou amantes e finalmente saiam de casa em direção ao trabalho. Atravessavam a rua, subiam numa calçada cheia de gente caminhando na mesma direção. Vindo de todas as partes da grande cidade. De um lado, o terminal de ônibus lotado, do outro, centenas de pessoas se encaminhavam para um grande buraco, que aparecia misteriosamente com suas largas escadas rolantes e não rolantes atraindo com suas entranhas aqueles eternos desconhecidos.
Passavam rapidamente pelas roletas, desciam mais escadas, encontravam a plataforma que já os aguardava lotada de gente de todos os tipos, todos os estilos, todos os tamanhos, todas as raças.
Alto falantes informavam dos movimentos dos trens, imagens nas telas de publicidade mostravam as opções culturais e artísticas enquanto todos aguardavam a chegada do seu primeiro, segundo ou até mesmo terceiro transporte do dia. Entravam apertando-se uns aos outros numa vertiginosa corrida em direção a qualquer espaço disponível naquele vagão de metrô.
Apertavam daqui, apertavam mais e empurravam dali, todos se lembrando da época em que eram sardinhas em lata e hoje, talvez em novas encarnações, sofressem do mesmo mal.
Para Pepe, um ex-boxeador, atualmente porteiro e saca-trapos de uma firma de aparelhos eletrônicos e vídeo-segurança, que vivia até pouco tempo de pequenos golpes, tipo cheque sem fundo, usando o cartão de crédito de um amigo sem pagar a dívida, aquelas coisas; pra ele, Pepe, hoje é um dia especial. Do seu lado, carregando uma mochila que parecia bem cheia e pesada, encontra-se o Kimura Ponês.
Há algum tempo Pepe vivia pensando nos eternos desconhecidos. Na forma como eles sofriam, não somente apertados e encurralados nas grandes escadas rolantes da estação de transferência Pinheiros, mas também pensava no péssimo odor que exalava do Rio Pinheiros, cheirado e sentido todos os dias por milhares de passageiros que saiam do “buraco” e, na superfície, sofriam mais ainda com o cheiro de bosta azeda que eram obrigados a compartilhar com os milhões de paulistas que vivem, trabalham ou são obrigados a passar pelas marginais ribeiras dessa grande cidade.

II

Pepe tinha um plano bem ousado. Ele desejava faturar pelo menos 20 mil reais em no máximo 35 dias. Isso serviria para pagar aos amigos que emprestaram cartão, alguns cheques de lojas que foram parar no Serasa e SPC e outras pequenas pendências. Depois, voltar para Salvador.
Em suas viagens diárias pela linha azul e amarela do metrô e depois a linha Esmeralda da CPTM até Presidente Altino para trabalhar, indo as 5:30 e voltando às 18:00, Pepe se revoltava quando as portas do trem se abriam e entrava aquele cheiro de merda, principalmente nas estações Vila Olímpia e Cidade Jardim. O pior é que o cheiro espetacular teimava em permanecer até duas ou três, às vezes quatro estações inteiras e só melhorava um pouquinho depois da estação Ceasa. A porta fechava de novo.
O trem lotado de gente asfixiada e tentando tirar aquele odor do nariz, forçando um espirro. Muitos até aproveitavam para peidar nessa hora. O que parecia até natural e sugestivo. Cocô e cocô um dia se encontrariam. Democracia plena. O cocô dos ricos se encontrando com o peido dos menos válidos.
Em plena paulicéia, se é que me entendem.
De um lado, o Shopping Morumbi, do outro, Parque Burle Marx e uma “comunidade” em Santo Amaro. E por aí o trem vai. Lotado. Com a porta fechada, claro. O cheiro de merda, insistindo em permanecer lá dentro.
E o pior, tinham que enfrentar todos os dias, pelo menos no primeiro vagão, uma situação inusitada com a qual acabaram se acostumando. Durante a viagem havia aquele senhor, que passaram a chamar de “o maluco da CPTM”.
O coroa, quando o trem abria a porta numa das estações-lambança e pouco antes de fechar as portas, gritava a plenos pulmões: “cheira todo mundo junto, agora” e pedia a todos para encherem o pulmão com aquele cheiro azedo de cocô, segurar 15 segundos e soltar o ar devagarinho. Os eternos desconhecidos (numa das ocasiões o Pepe presenciou a cena), que viajavam naquele vagão obedeciam cegamente as ordens do coroa. E não é que funcionava mesmo? O cheiro, entrando em todos os pulmões ao mesmo tempo e solto em camadas, fazia dissipar metade do cheiro de merda que insistia em permanecer no trem. Seria sério se não fosse cômico.
Nosso personagem tinha visto na tevê pessoas usando máscaras contra gás e vírus de gripes, para se protegerem contra a poluição, fumaça e contra ataques policiais com bombas lacrimogêneas. Pensou: e se eu inventar um treco parecido com esse? Ao invés de proteger contra gás, poluição e vírus, protegerá também contra cheiro de cocô do Rio Pinheiros.
Falou com o Kimura, o amigo nissei desenhista da firma.
O “ponês”, como era conhecido, trabalhava bem com o CorelDraw, gostou da ideia e resolveu investir no projeto de Pepe. Além disso, seu pai era um dos sócios da firma de segurança e com certeza, se o projeto fosse viável, ele até poderia investir uma grana pra encomenda do primeiro milheiro.
Fizeram, juntos, um rascunho. E o material para fazer um protótipo? Correram atrás e montaram um sistema com uma bombinha que tocava para dentro da máscara um leve cheiro de alfazema, um perfume barato que foi moda na década de 50 do século passado e um pouco mais aromado do que o leite de rosas, que tinha sido a primeira opção.
Saíram juntos para testar o aparato.
III

Assim que o trem parou na estação Granja Julieta e o fedor tomou conta do vagão número 2, Pepe e Ponês vestiram suas máscaras, acionaram a bombinha e logo aquele cheirinho de alfazema penetrou em suas narinas.
Os dois, embora a cara de curiosidade e medo dos outros passageiros os deixassem um pouco constrangidos, seguiram mascarados até a estação Cidade Universitária, onde o auge do fedor alcança a sua plenitude máxima. Antes da Villa Lobos, tiraram as máscaras e olharam felizes um para o outro, com a impressão de terem cumprido uma etapa importante em suas vidas de inventores preocupados com o bem do próximo.
Riram bastante com o resultado.
De empregados de uma firma tamanho médio, eles começaram a vislumbrar a realização de um grande negócio. Finalmente iam encontrar a independência financeira e seu Takaoka Kimura iria se orgulhar do filho e do empregado quase sem-teto.
O plano parecia infalível. Agora era correr atrás da produção do primeiro milheiro. Mas, e as vendas?  Como fazer para atingir o público, aquele público que viaja naquela linha e que sofre com cheiro de merda todo dia?
O rapaz do amendoim e a moça do chiclete lhes forneceram a solução.
Hoje, os dois estão meio atrapalhados para começar a primeira experiência de vendas como camelôs dentro do trem (o que é prática proibida), mas mesmo assim começaram:
- Acabe com o cheiro de cocô. Máscaras cheirosas para fazer mais confortável a sua viagem. Delete o Rio Pinheiros de sua vida.
- Na minha mão, agora, aproveita galera é só 10 reais, 10 reais e vc não sente mais cheiro de merda.
- Alfazema em seu nariz, esqueça a merda do chafariz.
- Compre aqui com a gente, sem água poluída da nascente.
- Esqueça o cocô, vire você também um dotô.
E assim, de trocadilho em trocadilho, venderam 20 peças num vagão, 15 em outro, desceram na estação Ceasa e voltaram em direção ao Grajaú, apregoando seu produto e já com a sacolinha cheia de dinheiro.
No final do dia, a dupla tinha faturado mil reais.
O resto da história, fica pro seu Kimura pai, que passou a importar máscaras Made in China mais modernas e exalando perfume Chanel falsificado. Kimura filho abriu um sushi-bar. Pepe voltou prá Salvador e foi cuidar de jovens carentes do projeto “Defenda-se”, criado por ele quando ainda era um boxeur.
Os desconhecidos ficaram eternamente gratos por não terem mais que aguentar o cheiro de merda fedida.
Passaram a usar a máscara-contra-cheiro-de-merda-dos-Rios-Pinheiro e Tietê-com-chanel-numero-cinco-para-seu-deleite- ou simplesmente,  CacaMask, produto da Pepe&Kimura Enterprises.
Sim, nosso herói pagou a conta atrasada aos amigos e lojistas e mora com uma lourinha sueca na praia do Farol da Barra.

FIM

HERANÇA

EVANDRO ALVES MACIEL
Poeta, graduando em Filosofia pela Faculdade de São Bento, de São Paulo e fotógrafo amador. É autor do livro de poemas “Veneno de Ornitorrinco” (Ed. Patuá, 2016).

HERANÇA:
eu era uma máquina-robô
programada para a paz
e armada para a guerra
eu era um porta aviões
pleno de bombas reluzentes
e no mastro - bem amarrada - uma bandeira branca.